O Rio de Música nasceu após uma visita ao Jacarezinho do músico Bruno Aguilar e de Antônio Carlos da Costa, fundador da ONG Rio de Paz, que está na comunidade desde 2007. Durante o percurso, impressionaram-se com a violência, o barulho e a sujeira. E saíram dali motivados pelo desejo de criar uma escola de música, democratizando conhecimento, dando oportunidades, ouvindo e sendo ouvidos, aprendendo e ensinando. Professores aderiram à ideia e, logo, estávamos oferecendo aulas de canto, flauta, violão, baixo, teclado, bateria, percussão… Era preciso fazer barulho, era preciso fazer som!
Bruno começou, então, com a ajuda de voluntários, a organizar a obra da sede do Rio de Música. Foram dois anos de dedicação até que duas salas fossem inauguradas, em 2016. Dois dias depois, porém, uma troca de tiros entre policiais e traficantes quebrou todos os vidros da fachada, sem feridos. Apesar de triste, esse episódio fortaleceu o projeto. “A comunidade nos convenceu a não ir embora. Não saímos e retomamos nossas atividades”, ressalta Bruno. Passados 15 dias, no entanto, outro conflito atingiu a sede. Desta vez a estratégia de superação mudou. Além de transformar, o Rio de Música precisava preservar vidas.
Acolhidos pela Biblioteca Parque de Manguinhos, alunos e professores seguiram na delicada arte de aprender e ensinar. Para isso, a doação de grandes músicos das cenas carioca e nacional foi fundamental, assim como o apoio financeiro da família Fraga (Sylvio, Lucyna e Armínio). Mas ainda não estávamos à vontade nesta nova casa. As condições eram péssimas na biblioteca. Sujeira, livros espalhados pelo chão, equipamentos de audiovisual cobertos de poeira, moscas e invasões. E, assim, o desprezo do estado pela cultura e pelo saber nos expulsou de lá.
Em maio de 2018, encontramos no Colégio Estadual Professor Clóvis Monteiro um cenário inspirador: imensa quantidade de alunos instigados pela chance de adquirir novos conhecimentos, um espaço repleto de árvores e grande potencial. Por mais que existam as dificuldades típicas de qualquer escola pública no Brasil, ali reside a esperança de mudar, transformar vidas. Por ali decidimos seguir diante na missão de unir o lado lúdico da música à disciplina que ela requer, conscientizar os alunos em um ambiente de alegria. Com o dinheiro captado através de nossa campanha de colaboração coletiva, iniciada em março do mesmo ano, reformamos três salas de aula, recuperamos o telhado destruído e trocamos a fiação elétrica. Fechamos o primeiro semestre com cerca de 50 alunos e fila de espera para alguns instrumentos. Precisamos, podemos e vamos crescer mais.