O poder da música

Não duvide do poder da música. Ela é capaz até mesmo de manter viva, dentro de um corpo de 63 anos, a menina que fugiu de casa para participar de um concurso de samba. Já faz tempo, mas é como se a criança ainda sorrisse ao ouvir seu nome como a grande ganhadora do prêmio, um rádio, em Vitória de Santo Antão, Pernambuco. Ela é Marlene, já adulta e aluna do Rio de Música, que encantou o público com sua história na série de lives que o projeto vem fazendo nesta pandemia.
“Minha família era muito pobrezinha, mas todo mundo alegre. Minha mãe tocava violão; meu irmão, sanfona. E eu gostava de cantar, dançar. Como a gente não tinha dinheiro para comprar um rádio, se juntava na sala para tocar e cantar. Eu ficava lá, observando, aprendendo… Até que um dia, em 1976, soube que aconteceria um concurso de dança durante o Carnaval, e o presente seria um rádio. Fui sem minha mãe saber e ganhei!”, diverte-se Dona Marlene, que, com medo de apanhar, voltou para casa cheia de amigos: “Minha mãe não gostou muito de eu ter ido, mas ficou feliz com o rádio. No ano seguinte, fui escondida de novo para vender o prêmio e colocar luz em casa. Ganhei e, com o dinheiro de outro rádio, conseguimos realizar mais esse sonho”.
No Rio de Música há quase quatro anos, Dona Marlene conta que o projeto, desde o início, é uma forma de encarar a realidade – nem sempre tão animada quanto a sala onde sua família se reunia, nem sempre tão iluminada quanto sua antiga casa.
“Cheguei em um momento muito difícil. Meu marido havia acabado de morrer após um casamento de 32 anos. Todos me abraçaram, fui muito bem recebida pela Ana Bispo, pelo Bruno Aguilar, pelo Bernardo Ramos… Todos são excelentes professores”, elogia ela, que atualmente faz aulas de canto e violão: “Recentemente, perdi meu filho. Mas tento não me abater. Para o Rio de Música, não interessa se a pessoa é nova ou velha, preta ou branca. No projeto eu tenho amigos, me sinto à vontade. É isso o que me ajudou, é isso o que me ajuda. O Rio de Música mudou minha vida”.